quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CIUMEIRA NA POLITICA

Todo político tem medo de perder. Seja o poder ou mesmo um debate, uma oportunidade, uma eleição, seus aliados e assessores. Não ultrapasse os limites da sua confiança, ou os problemas serão muitos – e quase sempre se irreversíveis.

Os mundos da política e da vida privada são muito diferentes entre si, mas mantêm indiscutível relação. Que não se resume a transferir automaticamente um padrão de comportamento, sua integralidade e pureza., de uma esfera para outra: alguma modificação sempre ocorre, seja alterar os significados, inverter efeitos ou até preservar características.

Na política, um dos sentimentos mais fortes com o qual tem que se lidar é o ciúme. O político é um ser competitivo, ambicioso, aquisitivo e treinado para a luta. Inevitavelmente insatisfeito e inseguro, ama, odeia, esquece e despreza, bajula, briga e reconcilia-se com enorme facilidade e freqüência. Acima de tudo, é territorial e possessivo: defende seu espaço (num amplo sentido, como tudo que considera seu) aguerridamente e desenvolve extremo apego às pessoas que trabalham junto dele e também a seus apoiadores. Seu ambiente de trabalho é naturalmente disputado. Assim como quer ampliar seu patrimônio político, os concorrentes também o querem. E só há uma maneira de multiplicar esses bens: atraindo eleitores dos adversários. Nesse meio carregado de incertezas e inseguranças, no qual os apoios e alinhamento são acertados pela palavra – uma frágil garantia – a competição é permanente e incessante.

Como não pode saber, como segurança, a extensão das perdas e traições que acontecem na sua base de apoio, o político torna-se uma pessoa de exacerbada sensibilidade com sua imagem e sinais de perigo. Dentre estes, talvez o mais assustador seja o que diz respeito à lealdade de auxiliares e apoiadores. Nenhum principio é mais valioso para o político do que esse.Havendo lealdade, tudo é perdoado, inexistindo, nada é tolerado. O sentimento que vigia a lealdade é ciúme, um sentinela ativo e sofisticado do comportamento do colaborador ou da pessoa amada. Ele desenvolve técnica de observação sutis, capazes de identificar qualquer afastamento, por mínimo que seja, do padrão esperado e previsto. Emprega testes dissimulados para avaliar a consistência da lealdade. Exige explicações detalhadas para fatos e atitudes que deixaram duvida. Possui alvos classificados como perigosos ( pessoas com as quais o auxiliar pode tramar e trair sua confiança) e a qualquer momento pode incluir outros tipos potencialmente perigosos.

Nenhum principio é mais valioso para um político do que a lealdade, sempre vigiada de perto pelo ciúme. Quem trabalha com um político sabe o quanto o ciúme ocupa sua mente e oriente a sua observação. Períodos eleitorais, então, são momentos críticos, nos quais esta preocupação acentua-se. O ciúme depende sempre da existência de um triangulo cujos elementos são sempre os mesmos: uma relação de lealdade que une duas pessoas e um competidor que pretende atrair para si o colaborador que não participa da disputa direta. Quem trabalha com político jamais deve subestimar a força e o poder do ciúme nas relações com seu chefe. Acostumado a presenciar traições, o político dificilmente desenvolve uma confiança absoluta e irrestrita nos outros. O tempo passa as pessoas mudam e o risco está sempre presente. Por outro lado, fazer política é envolver-se numa ação coletiva e competitiva. Portanto, não é possível ter sucesso sem confiar nos aliados, amigos, auxiliares e apoiadores. É em meio a esses dois pólos que navega a psicologia do político. E entre a necessidade de confiar e o risco de confiar, vence a primeira. Em conseqüência, aquela sensibilidade intensifica sob a forma de cume para vigiar a lealdade

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